quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

E o CD do RDR?


Vai ficar para 2011...

Oficinas de texto, leitura e computação no Gapa/RS




Durante o ano de 2010, alguns integrantes do RDR participaram de oficinas de computação, leitura e texto no Gapa/RS.





Nos bastidores da viagem

Ceco, Michelle e Carla no aeroporto e no avião, quando iam para o Rio de Janeiro participar do XV Encontro de Pessoas Vivendo com HIV e Aids, em novembro de 2010:





RDR desfila para Daspu no Rio de Janeiro


Durante o XV Encontro de Pessoas Vivendo com HIV e Aids, realizado em novembro de 2010 no Rio de Janeiro, Michelle, do RDR, e Tiano e Sandra, integrantes do Gapa/RS, desfilaram para a grife Daspu:

Michele se produziu para o desfile:








Tiano e Sandra também arrasaram:






quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um desenho de MC Alex


MC Alex (Bocão) desenhou Tiago cantando Rap e mandando mensagem para todos do jornal Boca de Rua

Realidade de Rua no XV Encontro de Pessoas Vivendo com HIV e Aids





De 25 a 27 de Novembro de 2010, Michelle Aparecida dos Santos, José Nedir Ramires (o Ceco), Carla Almeida, Sandra Helena Gomes e Luciano Marinho (o Tiano) viajaram para o Rio de Janeiro, representando o Gapa/RS. Michelle e Ceco escreveram sobre a experiência:


Os 2 viajantes que foram pro Rio de Janeiro participaram do XV Encontro de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS. Teve palestras falando sobre a vivência das pessoas com HIV e AIDS, soropositivos, soro discordantes, o uso direto e freqüente da camisinha. Cantamos nossa música do Gapa Hip Hop Saúde.

As músicas falam todas sobre o uso indevido das drogas, do mal que elas causam. Para mostrar que droga não é bom, droga é droga.

Michelle participou de um desfile para uma grife chamada Daspu no dia 27 de novembro das 17:00 as 18:00 horas.



“A gente estava no encontro justamente quando a polícia estava em guerra contra o tráfico na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Sobre a violência no Rio de Janeiro, não ouvimos os tiros, mas passamos próximo ao Complexo do Alemão”, lembra Ceco.

“Fiquei normal, porque tinha uma distância. Meu maior era que, no primeiro hotel em que eu tava hospedado, a gente tava junto com a Polícia Federal. O maior prazer deles era desfilarem com fuzil e colete à prova de bala. A bala tava pegando”, diz Ceco.

O outro hotel onde tava acontecendo o XV Vivendo Pela Vida foi na Lapa. A sede do Pela Vida é em Niterói. Ceco viu os Arcos da Lapa e achou bem bacana. Nas três noites teve shows ali de MPB. Ali o que tem muito é botequim com samba de mesa.



Ceco conta como foi a apresentação deles no encontro:

No começo da apresentação a gente tava meio tímido. Era a primeira vez que pegava um público tão diferente em nível social. Intimidou um pouco. Era diferente de Porto Alegre – de ter prestígio e entrar em locais, sem ser questionado.

Durante a oficina que apresentamos, começamos a trocar ideias e fazer intercâmbios. A gente perdeu a timidez.

No momento em fomos apresentar o projeto, eles, da plateia, não imaginavam que tavam falando com ‘dependentes ativos’. Quando souberam, ficaram impressionados. Perguntaram como seria possível: ‘Vocês, como ‘dependentes ativos’, como é esta sensação?’

Respondemos que temos três momentos: de prazer, do trabalho e do compromisso. Primeiro é o trabalho, vamos deixar o prazer para a hora do prazer
".

A morte de MC Toninho







MC Michelle e MC Dom escreveram estes textos em homenagem a MC Toninho, que morreu em 6 de dezembro de 2010:

MC Dom: "Deus cuide bem de meu mano"

MC Michelle: "Descanse em paz, companheiro"

Nesta foto, MC Toninho aparece na gravação do CD do Realidade de Rua, entre Vinicius, Dom e Michelle (ele é o terceiro, da esquerda para a direita)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma mudança de planos

Texto de Weslley Bragé Dias

Dezembro de 2009

Porto Alegre, RS



Todo mundo tá preocupado com o crack. E quando chegar a merla como em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, vai ser uma mudança de planos. Quero ver onde é que vão enfiar a camiseta de “Crack nem pensar”, musiquinha e adesivo. Para fazer fama, ouvir aplauso, a boca fala tudo, mas onde é que vão enfiar a cara, com que palavras vão contrariar as pessoas quando a merla estiver no lugar do crack?

Existem três tipos de cocaína: a mais pura é a boliviana, só tem em Alvorada. A mais ou menos é a Viviane. Tem esse nome porque Viviane foi a primeira mulher que trouxe de São Paulo para cá. Morreu aqui (Porto Alegre), assassinada. A Loira é a mais fraca, a mais misturada, pode ter o mesmo efeito que giz escolar.

Tem vários tipos de pedras também: Hulk, Cristalina, Cenourinha, Bate-Bate. A pior destas é a Bate-Bate, porque é a mais pura, feita direto quimicamente. Até em casa se faz.

Merla é a mistura da Bate-Bate com a resina da boliviana. O nome é merla, o apelido é Morte Súbita, porque a pedra vicia e mata com menos prazo. Tanto é que tem gente que fuma pedra há 12 anos e não morreu até hoje. A merla, segundo os doutores, em seis meses mata. Mas não é exatamente seis meses – é conforme o adequado andamento que a pessoa usa, a forma como usa. O efeito dura 15 menos, o triplo do efeito da pedra.

Ela pode ser usada fechada como maconha. É o “mesclado” (mistura de pedra com maconha e pó), também chamado “macaquinho”. Pode ser usada no cachimbo (ou bimbo), e aí não passa de dois meses – a pessoa se mata porque tem 90% mais efeito colateral que a própria pedra.

A merla aqui em Porto Alegre está circulando há três meses. Antes só se ouvia falar. E só não se tá num vício pior, porque não está sendo lançada no mercado como a pedra (crack). Em uma semana, a pedra aumentou 80% o uso. E agora, mais ainda. E não se sabe se não vai aumentar mais ainda.

Onde diminuir o consumo da pedra, aumenta o mercado da merla. E o que dizem é que vai ter mais índice de morte, até por acerto de conta entre quadrilhas e bocas de fumo, e pela droga mesmo, pelos peixes-grandes (patrões).

A diferença entre merla e crack é que a merla é tipo uma crosta. A merla também é um tipo de pedra, mas tem uma consistência mais como gel, gruda. A merca custa R$ 2,00 (R$ 3,00 a menos que a pedra, porque ainda está começando o consumo). A pedra (crack) custa R$ 5,00. Quando aumenta o vício, a boca de fumo aumenta o preço no mercado negro. A grama de pedra hoje chega a R$ 20,00.

Nem sempre quem vende merla e crack é a mesma pessoa, porque isso já tem envolvimento de gente grande, os traficantes costas-quentes. O traficante costa-quente é tipo um doutor que cai na cadeia e fica numa cela especial porque tem ensino superior. Vem direto deles.

Não estão vendendo ainda merla como vendem pedra. Não é assim fácil para entrar uma droga nova e sair vendendo. Tem que ter contatos do morro para lançar uma nova. Foi lançada uma parte para ver o resultado no meio dos usuários de crack e qual a reação. É inevitável: a reação é que a merla é melhor que a pedra. Não se viciaram ainda porque foi só um patinho na armadilha, para saber que a droga é mais forte que a anterior.

Crack e merla têm efeitos diferentes. O crack dá uma sensação de desconforto, a pessoa fica espiada, com medo da própria sombra. Faz ter reações incomuns, como entrar noite adentro caminhando. Tem gente que come formiga ou cascalho do chão porque acha que é crack. Tudo que vê da mesma cor, pequeno, acha que é crack e tem vontade de fumar. Chegam a queimar o dedo para raspar o cachimbo, sem sentir dor, só para fumar a resina, que é mais forte que a pedra.

A merla não deixa tão espiado, mas deixa imoiblizado. Onde fumar, pára, fica, é o mesmo que dar um branco, uma lavagem cerebral. Qualquer um pode fazer o que quiser, o cara não vai dar bola. Porém, o principal efeito dela, depois de uns dois minutos, é muito pior, a pessoa pode criar um desespero próprio, sair correndo, sem ter medo de nada, tipo um amigo meu que foi atropelado. Quebrou a perna, machucou o braço. Foi só um “te liga”, para ver a reação com a outra pedra. O que mais mata em relação à pedra é chinelagem, roubar para usar.

Chamam merla de Morte Súbita porque, com o crack, a maioria das pessoas morre por ter reações de furto, roubos, desrespeito à própria família, só para usar. A merla faz a pessoa se matar. Como hoje em dia a pedra já está matando, com a merla vai ser pior, porque vai ter o aumento de morte pelo desandar da pedra, o aumento da merla e o suicídio dos usuários.

O bom é que, pelo pouco que veio no mercado, a merla ainda não foi dada nem vendida para crianças. É a única parte boa. Para impedir as pessoas de usarem só derrubando a boca de pedra e pó. Onde não tiver mais, não tem merla.

Na Câmara Municipal disseram que o crachá tem há quatro ou cinco anos. Mas está no Brasil há pelo menos 19 anos. É só botar um usuário na parede e perguntar. Não quis falar isso lá no microfone, mas tive vontade de soltar o verbo. Sei de trabalhos que olhei em livros e o acompanhamento que tenho de rua, de conversar, prestar atenção no que as pessoas falam.

Com certeza a merla pode chegar ao mesmo nível do crack, é só ela ser finalmente lançada como o crack foi. Não é uma droga nova. Em Brasília, há 13 anos, já se falava nela.